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Vista Alegre é um bairro vizinho a Irajá, onde fui criado, ambos no subúrbio do Rio. Durante a década de 1980, a noite de Vista Alegre pulsava fortemente. Era tão intensa que foi capa da extinta revista Domingo, do também finado Jornal do Brasil. Certa noite – acho que em 1985, ou outro ano não muito distante deste –, voltávamos para casa eu, Marcelo, um negro forte e operário, com mais de 1,80 de altura; e Luiz Fernando, assim como eu, branco.
Quando alcançamos o meio da rua Manoel de Araújo, que leva à Anibal
Porto, já em Irajá, surgiu um camburão. Bigode, um cabo sem escrúpulos, conhecido
por esculachar a molecada da região, mesmo sem motivo, desceu da viatura e mandou
todo mundo encostar a mão na parede, e ficar de pernas afastadas. Até aquela dura,
nunca havia assistido a uma cena de racismo. Bigode, pelo simples prazer de
humilhar um ser humano por conta da cor da pele que este possui, deu um bico em
Marcelo.
"Não mandei abrir as pernas, negão", esbravejou o PM, diante de nosso medo
e incredulidade. "Mas eu estava com elas abertas", tentou argumentar Marcelo. Bigode
deu outro bico nele, e disparou: "cala a boca, porra!" Depois da revista
geral, Bigode volta ao camburão e vai embora. Meu amigo, cheio de ódio e
indignação, chora.
OS NÚMEROS NÃO MENTEM
Hoje, três décadas depois, quase nada mudou. O hediondo ato de Ascendino Correia Leal, gerente do restaurante Garota da Tijuca, de dar bananas de “presente” a três trabalhadores negros, no Dia da Consciência Negra, e a postura da polícia, que ainda seleciona suspeitos, e faz vítimas, de acordo com a cor da pele que elas tenham, são marcas indeléveis do quão lento caminhamos na questão do racismo.
OS NÚMEROS NÃO MENTEM
Hoje, três décadas depois, quase nada mudou. O hediondo ato de Ascendino Correia Leal, gerente do restaurante Garota da Tijuca, de dar bananas de “presente” a três trabalhadores negros, no Dia da Consciência Negra, e a postura da polícia, que ainda seleciona suspeitos, e faz vítimas, de acordo com a cor da pele que elas tenham, são marcas indeléveis do quão lento caminhamos na questão do racismo.
Segundo o Mapa da Violência de 2015, com base nos números de 2012, armas de fogo vitimaram 10.632 brancos e 28.946 negros. Significa dizer que, para cada cem mil habitantes brasileiros, morreram 11,8 brancos contra 28,5 negros. Ou seja, foram mortos, por armas de fogo, 142% mais negros do que brancos. Ainda segundo o Mapa da Violência, a taxa de homicídios de brancos, considerando o período de 2003 a 2012, caiu 18,7%. A de negros aumentou 14,1%.
Realmente, está muito puxado!