Pesquise aqui as publicações anteriores deste blog

terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

Morte, impunidade e insensibilidade no futebol

CARLOS MONTEIRO
“Ei, meus amigos,
um novo momento precisa chegar.
Eu sei que é difícil começar tudo de novo,
mas eu quero tentar.”
(Clamor no Deserto – Belchior)


Alvinegros tentam ajudar homem ferido após confusão nas proximidades do Engenhão
(Foto: Marcelo Theobald / O Globo)

O ano mal começou e já nos deparamos com tragédias a assombrar os estádios de futebol. No último domingo, uma semana após um jovem tricolor ser espancado com barra de ferro nas proximidades do Maracanã, depois de assistir a um jogo do time dele (pasmem!) em Xerém, um botafoguense foi baleado e morreu na porta do Engenhão. Na realidade, não importa para quem torciam, se eram ou não de facção organizada, como muitos pretendem polemizar. Neste balanço sinistro, o resultado é somente dano, dor e sofrimento para mais uma família em luto.

Como se não bastasse o funesto episódio, as diretorias de Botafogo e Flamengo acabaram por acirrar ainda mais o ódio, mesmo que a intenção não fosse esta. Primeiro foi o vice-presidente de comunicação rubro-negro, Antonio Tapet, que, a tripudiar na sensibilidade, publicou no twitter, logo após o clássico, a seguinte mensagem, carregada de um duplo sentido, no mínimo, desnecessário: “Somos todos menos alguns. Acostumem-se. Tudo é maior, mais importante, mais relevante.”

Também na contra mão do bom senso, Carlos Eduardo Pereira, o presidente alvinegro, irritado com os prejuízos causados pelos torcedores rubro-negros no Engenhão, revelou à ESPN que não permitirá mais que o Flamengo utilize as dependências do estádio que administra. Se a intenção era esta não sei, mas não tenho a menor dúvida de que a proibição do cartola ao Rubro-Negro ficou com alma, cor e sabor de retaliação.

Mais importante do que discutir se os dirigentes têm razão – o flamenguista por festejar a vitória e o botafoguense por querer se ver livre de prejuízos – é percebermos como, em vez de causar revolta e indignação generalizada, a morte em partidas de futebol acabam por ser banalizadas. Isso explica, por exemplo, que, nas redes sociais, pais de família, homens honrados, cumpridores de seus deveres, estivessem, no dia seguinte ao clássico, mais preocupados, por conta de suas paixões clubísticas, em se acusarem mutuamente do que em buscar alternativas para darmos um basta na violência nos estádios.

Sinceramente, do que adianta nota de pesar, solidariedade aos familiares, se não tomamos as medidas que devem ser tomadas? Quantas vezes já se identificou meliantes a matar, a espancar e a roubar nos estádios e não se fez nada de concreto? E a Justiça por que também não pune com mais rigor? Pois é, amigos, nesta intrincada teia de interesses e negócios, ficamos nós, pobres torcedores, assim como toda sociedade civil, à mercê da sorte, de Deus e de quem mais, lá de cima, quiser nos ajudar.

Enquanto isso, vou aqui brincando com minhas memórias. Sinto saudade do tempo em que subia a rampa da Uerj para ver o Vasco jogar, de mãos dadas com meu pai, juntamente com os torcedores adversários, sem brigas e tiros. Pois é, os tempos andam tão difíceis que, se não fizermos nada, assim como o futebol, periga, daqui mais alguns anos, não termos nem mais a Uerj, de tão vilipendiada que foi por Sérgio Cabral e sua gang. Tá puxado!  

Clamor no Deserto (Belchior)

Nenhum comentário:

Postar um comentário