CARLOS MONTEIRO
“Ei, meus amigos,
um novo momento precisa chegar.
Eu sei que é difícil começar tudo de novo,
mas eu quero tentar.”
(Clamor no Deserto – Belchior)
Alvinegros tentam ajudar homem ferido após confusão nas proximidades do Engenhão (Foto: Marcelo Theobald / O Globo) |
Como se não
bastasse o funesto episódio, as diretorias de Botafogo e Flamengo acabaram por acirrar
ainda mais o ódio, mesmo que a intenção não fosse esta. Primeiro foi o
vice-presidente de comunicação rubro-negro, Antonio Tapet, que, a tripudiar na
sensibilidade, publicou no twitter, logo após o clássico, a seguinte mensagem, carregada
de um duplo sentido, no mínimo, desnecessário: “Somos todos menos alguns.
Acostumem-se. Tudo é maior, mais importante, mais relevante.”
Também na
contra mão do bom senso, Carlos Eduardo Pereira, o presidente alvinegro, irritado com os
prejuízos causados pelos torcedores rubro-negros no Engenhão, revelou à ESPN que não permitirá mais que o Flamengo
utilize as dependências do estádio que administra. Se a intenção era esta não
sei, mas não tenho a menor dúvida de que a proibição do cartola ao Rubro-Negro ficou
com alma, cor e sabor de retaliação.
Mais
importante do que discutir se os dirigentes têm razão – o flamenguista por festejar a vitória e o botafoguense por querer se ver livre de prejuízos – é percebermos
como, em vez de causar revolta e indignação generalizada, a morte em partidas
de futebol acabam por ser banalizadas. Isso explica, por exemplo, que, nas
redes sociais, pais de família, homens honrados, cumpridores de seus deveres,
estivessem, no dia seguinte ao clássico, mais preocupados, por conta de suas paixões clubísticas, em se acusarem mutuamente do que em buscar alternativas para darmos um basta na violência nos estádios.
Sinceramente,
do que adianta nota de pesar, solidariedade aos familiares, se não tomamos as
medidas que devem ser tomadas? Quantas vezes já se identificou meliantes a
matar, a espancar e a roubar nos estádios e não se fez nada de concreto? E a
Justiça por que também não pune com mais rigor? Pois é, amigos, nesta
intrincada teia de interesses e negócios, ficamos nós, pobres torcedores, assim
como toda sociedade civil, à mercê da sorte, de Deus e de quem mais, lá de
cima, quiser nos ajudar.
Clamor no Deserto (Belchior)
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