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sábado, 18 de fevereiro de 2017

Torcida única: prenúncio da morte do futebol

CARLOS MONTEIRO


Confesso que, por ser inveterado apaixonado pela vida e seus heróis anônimos, nunca fui chegado à sensação provocada pela nostalgia. Ela sempre pareceu me conduzir a uma espécie de pequena morte instantânea. Algo que existia se perdeu no caminhar incessante do tempo. Um amigo de infância que nunca mais vi, o cheiro do café antes de ir para a escola, a Rádio Relógio no melhor estilo filósofo de botequim: “cada segundo que passa é um milagre que não se repete”. Por isso, sempre preferi manter distância da nostalgia. Obviamente, inutilmente.

Nestes dias sombrios, de quase nenhuma solidariedade e apreço à vida, à ordem democrática e ao amor desinteressado, bateu uma nostalgia da porra. Não é para menos. Além da volta da censura e dos pedidos de ditadura, assistimos, entre incrédulos e impávidos, a morte do Maracanã. Para eles, que detestam tudo que se relacione com o popular, com o homem comum, desengravatado e desprovido de gabinetes refrigerados, ainda é pouco. Na intenção de colocar um basta na violência nos estádios, os senhores de nossa aldeia global destrambelhada desejam retirar os torcedores dos campos de futebol.

Aí fica difícil não lembrar, como já disse em post anterior, de mim e meu pai, mãos dadas, subindo a rampa do Maraca, juntamente com os torcedores dos outros clubes. Tenho saudade também do tempo em que não precisava concordar com o Eurico Miranda, que tem posições tão próximas às minhas quanto o Brasil da Sibéria. Entretanto, nesta empreitada, estou com o presidente do Vasco. Com uma torcida só, não tem jogo. Que graça tem ir ao estádio e gritar que “o Vasco é time da virada” para apenas os meus pares ouvirem?

Quero continuar a ter o prazer de frequentar os campos com meu filho, assim como fiz com meu pai, para torcer com os adversários. Quero viver a diversidade, com todo mundo junto e misturado. Ela, a mistura é que me interessa. Afinal, somos filhos dela. Filhos dos negros, dos brancos e dos índios. 

Não nos calarão!

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