CARLOS MONTEIRO
Confesso que,
por ser inveterado apaixonado pela vida e seus heróis anônimos, nunca fui
chegado à sensação provocada pela nostalgia. Ela sempre pareceu me conduzir a
uma espécie de pequena morte instantânea. Algo que existia se perdeu no caminhar
incessante do tempo. Um amigo de infância que nunca mais vi, o cheiro do
café antes de ir para a escola, a Rádio Relógio no melhor estilo filósofo de
botequim: “cada segundo que passa é um milagre que não se repete”. Por isso,
sempre preferi manter distância da nostalgia. Obviamente, inutilmente.
Nestes dias
sombrios, de quase nenhuma solidariedade e apreço à vida, à ordem democrática e
ao amor desinteressado, bateu uma nostalgia da porra. Não é para menos. Além da
volta da censura e dos pedidos de ditadura, assistimos, entre incrédulos e impávidos,
a morte do Maracanã. Para eles, que detestam tudo que se relacione com o
popular, com o homem comum, desengravatado e desprovido de gabinetes
refrigerados, ainda é pouco. Na intenção de colocar um basta na violência nos estádios, os
senhores de nossa aldeia global destrambelhada desejam retirar os torcedores dos campos de
futebol.
Aí fica
difícil não lembrar, como já disse em post anterior, de mim e meu pai, mãos
dadas, subindo a rampa do Maraca, juntamente com os torcedores
dos outros clubes. Tenho saudade também do tempo em que não precisava concordar com o Eurico Miranda, que tem posições tão próximas às minhas quanto o Brasil
da Sibéria. Entretanto, nesta empreitada, estou com o presidente do Vasco. Com uma torcida
só, não tem jogo. Que graça tem ir ao estádio e gritar que “o Vasco é time
da virada” para apenas os meus pares ouvirem?
Quero continuar a ter o prazer de frequentar os
campos com meu filho, assim como fiz com meu pai, para torcer com os
adversários. Quero viver a diversidade, com todo mundo junto e misturado. Ela,
a mistura é que me interessa. Afinal, somos filhos dela. Filhos dos negros, dos brancos
e dos índios.
Não nos calarão!
Não nos calarão!
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