CARLOS MONTEIRO
Meninos brincam no poluído Canal do Cunha, em Benfica (Foto: Domingos Peixoto / O Globo) |
Antes
de cursar jornalismo, durante pouco mais de um ano, estudei física, na UFF. Se isso
não me deu capacidade suficiente para elucidar questões de grande complexidade,
pelo menos me permitiu ter boa desenvoltura nas quatro operações. Mas este caso
da privatização da Cedae tem me feito duvidar do meu desempenho no que se
refere a somar, subtrair, multiplicar ou dividir. Veja só.
Levantamento
feito pelo repórter Leandro Resende, da Rádio CBN, que se baseou no último
balanço da empresa, publicado em 2016, mostra que a Cedae possui valor ativo de
R$13,3 bilhões e patrimônio de R$ 5,93 bilhões. E mais: a companhia alcançou
R$ 248 milhões de lucro, no mesmo período. Não perece coisa demais para dar de
garantia ao governo federal, que emprestará apenas R$ 3,5 bilhões para os
esquálidos cofres do estado do Rio de Janeiro?
Obviamente
que meus conhecimentos aritméticos não desapareceram de ontem para hoje. O que
não tem fim mesmo é a desfaçatez dessa elite mesquinha. Além de entregar, na
cara dura e de mão beijada, um lucrativo patrimônio do estado à iniciativa
privada, a venda da estatal deixará a parcela mais carente da
população duplamente exposta. Além do risco de perder o direito à tarifa
diferenciada no fornecimento de água, os moradores das comunidades de baixa
renda, com a privatização, só vêm aumentar a incerteza quanto à ampliação da rede de coleta de
esgotos, também responsabilidade da Cedae até então.
Estudo do Instituto Trata Brasil, uma organização da sociedade civil de interesse público, revela que apenas
64,5% dos domicílios do estado têm o esgoto coletado, sendo que somente 33,6%
dele é tratado. Além dos inúmeros problemas de saúde provocados – para a
Unicef, 88% do total de mortes por diarreia no mundo são decorrentes da falta
de saneamento básico –, a precariedade na coleta de esgoto também acarreta
graves problemas ambientais.
Segundo especialistas, diariamente são despejados cerca de 461,5 milhões de litros de esgoto
doméstico, sem tratamento, na Baía de Guanabara, quantidade suficiente para
encher o equivalente a 185 piscinas olímpicas. E não para por aí. Estudo da
Fundação SOS Mata Atlântica ainda aponta que 70 dos 77 canais da cidade do Rio
morreram, não têm mais oxigênio.
Vocês acreditam mesmo que os empresários que temos
por aqui, que trata a população como gado nos privatizados transportes públicos,
estão mesmo dispostos a pagar esta conta? Tenho certeza que não. Tomara que esteja errado.
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